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Verde e Vermelho
S. parou o carro no semáforo, ajeitando a gravata vermelha comprada na Boss da Av. da Liberdade, olhou o espelho, preocupado consigo e com a possivel queda de alguns cabelos. Ligou o número da V. para combinarem o jantar de mexilhões belgas.
K. chegou à esquina onde passara a estar todas as manhãs, encostada ao semáforo, desde muito cedo.
Chegara ali antes do sol, com o vestido comprido vermelho, já muito sujo das muitas vezes que se sentara no lancil, entre os 75 segundos de cada mudança de sinal. Tantas vezes que na sua cabeça já mal conseguia distinguir os carros e os condutores, já mal conseguia estender a mão e balbuciar sempre o mesmo, para receber sempre os mesmos olhares de esguelha, ou receber o reflexo dos óculos escuros.
K. olhou para o carro de S., ali parado. O azul escuro metalizado reflectindo-se na sua cabeça, a fome distraida, os óculos de sol ray ban de S. e a cabeça levantada num sorriso meloso entre conversas com o telefone.
K. levantou-se, só mais uma vez, despiu o vestido, a camisola bege, a roupa interior e ficou só com um lenço colorido na mão.
Subiu para o capot do carro de S., esticou-se ao comprido e adormeceu.
5 comentários:
Gosto destas fotografias escritas. E de ver a cena a desenrolar-se: realidade, ficção, realidade ficção.
Fica a imagem nas palavras lidas.
Impressionante também a menina da fotografia.
Isto é uma história tão triste!
a isso se chama pôr a escrita em dia ...ou as "palavras em linha" fotográfica
se for na travessa , tudo bem. há anos que não vou lá.
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