03 janeiro 2006

Alguns, achando bárbaro o espectáculo, prefeririam (os delicados) morrer.



Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.

És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


(Os ombros suportam o Mundo - Carlos Drummond de Andrade)

2 comentários:

jp(JoanaPestana) disse...

O Drummond sabia-a toda.

Elipse disse...

Como disse o Eugénio de Andrade. há momentos em que "Já gastámos as palavras..."