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Desculpe, pode ajudar-me a tomar uma decisão?
V. tinha saído do edifício há poucos minutos, e caminhava agora pela Avenida da Liberdade com as mãos metidas nas luvas azuis compradas na rue de st.Dennis, por 5 euros. Na esquina seguinte comprou a ideia de sair do emprego e das obrigações, do caminho diário regular, parou para olhar a montra da agência de viagens e apontou a luva para o papel que dizia Quénia, ilustrado com rinocerontes e taças de champagne. Para aqui, vou para aqui, pensou. Desviou o olhar para a porta, e caminhou disposto à loucura da decisão.
Quase a entrar, quase, hesitou. Olhou de novo a avenida e o anúncio da Lanidor, viu um vulto de sobretudo negro, passaram carros, rugiu um aeroplano, viu o azul de um céu entre prédios, uma espécie de torpor tomou conta de si. Via agora a M. a chegar a casa, a deixar as chaves em cima da secretária, a tirar o casaco rosa e a sentar-se no jardim de inverno, a ler Emily Dickinson armada de lápis nº3. Via agora M. a colocar Lou na cadeira pequena em frente a si, silenciosa como sempre, nenhum gesto, nenhuma palavra, a cabeça em pêndulo constante.
Viu sair da agência uma mulher com cabelos ondulados e boina castanha, um casaco escuro e sobrancelhas finas e cuidadas.
Resolveu não entrar, adiar a escolha da viagem. Seguiu-a.
6 comentários:
Ninguém ajuda ninguém nas decisões. Por mais que se procure está-se sempre sozinho.
As decisões tomam-se quando têm de ser tomadas, apesar das dificuldades que se possam colocar, da mudança que isso possa representar. Quando se tomam têm de ser para melhorar algo na nossa vida. É sempre um pau de dois bicos e a incerteza do futuro, por isso eu acho que cobarde é aquele que não toma as decisões com medo da mudança, vivendo agarrado ao passado, quando o futuro já não tem significado.
As decisões tomam-se quando têm de ser tomadas, apesar das dificuldades que se possam colocar ou da mudança que isso possa representar.
Quando se tomam têm de ser para melhorar algo na nossa vida. É sempre um pau de dois bicos, é certo, e uma incerteza quanto ao futuro, por isso eu julgo que cobarde é aquele que não toma as decisões com medo da mudança, vivendo agarrado ao passado, quando já não faz qualquer sentido pensar no futuro.
As melhores decisões crescem dentro de nós, como uma lua de verão.
Quénia parece-me bem ;)
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