Traz um vestido branco com brilhos salteados nas mangas, e entra com um leve rasto sonoro dos saltos no pequeno palco onde se colocaram já, há poucos minutos, um contrabaixista com um lenço branco na mão e uma camisa azul escura donde pende uma gravata roxa, um homem de boné e óculos escuros com uma guitarra e um jovem louro de t-shirt branca na bateria. Ela, senta-se ao piano, eu tenho tempo, guardei o meu tempo e desviei numa batota infame as contas de cash flow para uma reserva de coisas a retirar da vida um dia. Deixo o fumo cinzento invadir-me, não temo a proibição patética, a loja de horrores de reguladores e legisladores, o copo está baço e rodeado de angústias em diluição acelerada. Tenho saudades de Roland Kirk e da sua lágrima em Cascais, de Charles LLyod no Estoril, de Dave Holland e Jarrett no Coliseu. E sei como ela deixou o lugar a louras agora idolatradas.
Ela faz do tempo uma coisa ridícula, e começa a dizer, enquanto os dedos sobrevoam o piano:
You won’t forget me, though you may try
I’m part of memories, too wonderful to die
And it will happen, that now and then
You’ll fall to wonderin’ if we shouldn’t have tried
You won’t forget me, on nights like this.
The moon will cast on you the shadow of my kiss
No matter where you are with whom you are
You’ll think of me, you won’t forget me
Just wait and see, you won’t forget me
(homenagem tardia a Shirley Horn que cantou a melhor canção de amor de todos os tempos com Miles Davis, poucos tempo antes de Miles morrer, dez anos antes dela.)
Domingo
Há 9 horas
2 comentários:
que bela homenagem, que bela canção, que bom gosto!
Boa homenagem, sem dúvida.
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