30 agosto 2005

Um dia em Amsterdam


Se por acaso se conhecesse a vida nesta cidade poderia a aceleração das bicicletas fazer por nós o que a chuva não consegue: pôr o coração a andar mais depressa. Mas não, a senhora bem vestida e de chapéu com uma pena olha da sua bicicleta com ar confiante para a minha gabardine encharcada, com o mesmo olhar superior dos marginais dos bares para os rapazes que se despedem de solteiros, com as gravatas mal arrumadas, e os esófagos acidos de um vinho tinto mal escolhido.
Estou desorientado, tropeço na pedra de uma rua com nome de escritor e caio nos braços dum gentleman que segue apressado a linha para a bilheteira de um comboio qualquer. Não chego a perguntar nada, embaraçado; lembro-me que escrevi algo num chat, que estava convidado para um jantar a que faltei, e que fui amargo.
De facto, e como quem resume tudo no meio do nada, sento-me a descansar e deixo que a saudade da rocha a que me sentava a ver marés me incomode o suficiente para ter vontade de comprar uma alma, a troco de confissões desgarradas.


1 comentário:

Anónimo disse...

You're back, com um blogue novinho em folha, viva!