Não foi por acaso que J. passou por ali outra vez, e ainda outra vez.
Ao pensar no que o futuro lhe vai trazer, J., que nada sabe e tudo sabe, pensa outra e outra vez no passado que foi o que ele foi, ou pelo menos o que ele pensa que foi.
J., que nada sabe e tudo sabe, não tem a certeza que possa ser presidente da General Motors, ou mesmo capataz certificado, responsável por vigiar passeantes enlaçados no parque fronteiro ao Palácio do Presidente.
J., que nada sabe e tudo sabe, foi há tempos uma criança que era levada ao aeroporto para recolher fotos que o pai, armado de Polaroid, disparava contra a sebe, encavalitados ambos num poste.
J. teve mãe que o fotografou no berço e sorriu para o pai iluminado de certezas, pelo menos ele acha que as fotos são dele. Mas que pessoa era ele então ? e depois quando beijou a empregada de verão na casa da praia? e depois quando foi fotografado num café, com a camisola azul com vivos verdes que a namorada enfermeira lhe costurara entre turnos? e depois quando largou tudo para ir para a cidade do Cabo porque conhecera C. num campo de férias em Singapura?
Que pessoa era ele? que se passou então afinal, pensa J., agora que a sua vida não parece ser parte desse conjunto de memórias assustadoras?
Que diferença faz pensar no futuro, quando ainda pouco ou nada se sabe sobre o passado.
O que se passou afinal ?
Domingo
Há 15 horas
4 comentários:
...é o passado tão determinante que converte o pensar no dia de amanhã num pensamento indiferente?
...não é bem isso. É preciso entender bem o passado para o arrumar bem e ser optimista quanto ao futuro imediato. Ou seja: olhar o passado é como prever já o futuro!
Nem sempre...
A vida não é um modelo.
Mas o que vinha aqui dizer é que grande parte do que nós somos são memórias... sendo que a outra parte podem ser perspectivas (é disso que falas quando dizes "prever".
Ainda bem que há desejos.
Concordo em absoluto que sem conhecer o passado (nosso e geral) jamais compreenderemos quem somos, nem vislumbrar o que podemo ser.
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