(miradouro da srª do Monte - Graça)
Quando Z. para e ajeita a saia, momentos antes de entrar no café onde vai a seguir encomendar um croissant simples e uma meia de leite, ainda não sabe que a sua vida mudou há apenas 12 minutos.
Há apenas 25 minutos, N. sentou-se no balcão da FNAC do Chiado e pediu um sumo de pêssego com melão, que entornou sobre a manga da camisa de V.
V. não conhece N., assimilou o seu olhar e reparou nas mãos finas e trémulas que faziam par perfeito com os olhos hesitantes.
N.vai em poucos segundos resumir a sua vida com Z., e depois de sentir o coração a bater com estranhas arritmias, deixar que a sua mão pouse na manga da camisa de V. e com um gesto simples afirmar que a liberdade de hoje já é a liberdade de cada ser para si. Já não só a liberdade de cada ser para os outros.
Domingo
Há 9 horas
7 comentários:
Do you wanna change the world? Change mine. (Dizia Redford para Lena Olin, em "Havana", de Sydney Pollack)
Se pediste com muita força, podes ter sido ouvido .
Não deixo de achar irónico, para o bem e para o mal, esses hiatos em que a nossa vida já mudou, talvez irreversivelmente, e no entanto nós prosseguimos como se toda a normalidade fosse constante. Uma vida ceteris paribus. E depois, de chofre, o hiato termina, e muita coisa com ele.
Claro que o hiato é sempre uma coisa circular, a um segue-se outro, and so on. Mas é a consciência disso que é terrível (ou não), o saber que não se sabe quando esses momento nos atinge e altera o rumo. Como o vento.
A consciência é que é terrível, é isso mesmo.
25-12=13 . 13 minutos de vida, você é sádico ?
Não é um filme de horror, é o terror de subitamente, um momento já ter mudado a nossa vida. E ainda não o sabermos durante uma eternidade: 13 minutos podem sê-lo.
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