... nem mesmo as mais simples das mais simples coisas, como varrer, aspirar debaixo dos sofás, colocar em sacos os jornais das semanas, as garrafas das semanas, tirar as nódoas do chão da cozinha, lavar os pratos para não encher a máquina devagar, nem mesmo o tempo na varanda a ver o sol a passar pelo dia e pela cadeira e a sombra a fugir, a fugir, e o olhar desviado a fingir que não vê que a sombra não está parada e nenhum sobressalto, grito ou esforço a fará parar. Nem mesmo isso, respirar mais devagar, ver os velhos a andar devagar, estarrecidos pelo andar do tempo que parece vagaroso e os conduziu ali, nem as cadeiras paradas das mães a olhar para os filhos pequenos, devagar, como se eles assim ficassem e não apenas na memória. Nada impedirá que seja de novo rasgada a ânsia do outro, pelo outro, a coisa antigamente designada por amor.
Domingo
Há 11 horas
2 comentários:
que belo texto! parece ter passado por aqui o tempo da paixão...
E como vale a pena estar vivo (!) só para sentir chegar de mansinho essa brisa fresquinha que nos deixa o coração doidinho sem razão . ânsia amor ou paixão são a mera expressão . o que realmente conta são os instantes de felicidade que nos provocam, por mais curtinhos e mais tolinhos que sejam . de cada vez que o nosso corpo todo se arrepia de olhos postos no horizonte iluminado pela paixão, nascemos de novo . e o universo todo renasce também, na luz cintilante dessa nova estrela que brilha, no firmamento da nossa vontade, de tanto querer amar de novo .
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