A cara de L. era uma pasta de cremes com lábios vermelhos esborratados e pestanas de onde as gotas de suor pendiam teimosas.
Agarrou de novo o microfone e perdeu mais um tempo de entrada, perdeu mais uns brilhantes do vestido rosa curto, com franjas. O homem da guitarra voltou atrás, a bateria deu três toques ligeiros, rufados. Recomeças ou não?
"I went away when you needed me so, open up your eyes, no really knows, everlasting love, dont need no money, no more, everlasting love..."
Os dois clientes restantes sairam deitando abaixo as cadeiras de espaldar redondo de metal. Luzes brancas na sala.
L. baixou-se para deixar o microfone no chão de madeira poeirento, e olhou as luzes brancas que zoavam, ou seriam os seus ouvidos a estalar? ou seriam os anões que circundavam a face e as pálpebras? Era aquele o momento esperado, aquele em que as mãos de oiro e os pulsos chocalhantes se separavam do corpo e iam enfim juntar-se às teclas do piano?
Era aquele o momento em que voltavam a encontrar-se os desejos, e as luzes a iriam finalmente proteger do mundo onde dançava e cantava, agora agora agora, no páteo da vila com uma saia colorida e um laço na cabeça ?
Queria tanto crescer e agora fazia círculos à volta da lua, uma menina encerrada num corpo velho de mulher.
Um jornalismo militantemente irrelevante
Há 18 horas
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