21 dezembro 2005

Isto tem alguma coisa a ver com o Natal?


D. descansou da corrida de alguns km, sentou-se na relva, e olhou o melro que se escondia na pequena árvore do estádio universitário. Olhou, sem ver, o avião que descia para Lisboa, um dos personagens que fazia parte dos seus domingos, na hora em que todos se retiram para almoçar, para subir ao 3º andar de um apartamento, meter a chave à porta e sentir os cheiros de uma panela com couves e batatas, ver 3 copos de vidro facetado e barato da loja da rua dos fanqueiros, a mesa com uma jarra de flores de plástico, a face e os cabelos estragados de quem se levanta ao domingo e já não tem esperança que o tempo a salve. D. olhou os que se retiravam, mas alguém ficara.

O homem, de camisola verde e camisa azul escura, pegava numa pequena figura que não teria mais de 3 anos e batia-lhe. A criança chorou e ficou deitada na relva. O homem olhou em volta, com as mãos na cabeça, andou uns passos, hesitou, caiu de joelhos e pegou nesse pequeno ser.

D. sentiu as lágrimas daquele homem misturadas com as da criança, e viu como ele a abraçou, e sem nada dizer lhe pediu perdão.

Depois não havia mais ninguém, como não haveria mais ninguém capaz de dizer que D. não voltaria aquele lugar com medo das lágrimas que não eram suas.

3 comentários:

Elipse disse...

Resposta à pergunta do título: a quadra transporta algumas tristezas, se lhe dermos muita importância.

K. disse...

As lágrimas que mais temo são as que não minhas.

Carlos Azevedo disse...

Atenção, isto não é uma mensagem de Natal! isso chega amanhã :)