05 outubro 2005

Auto retrato em estação de serviço (IV)

So you give to me and I give to you... true love
ºº

CA cantarolava Bing Crosby pela estrada que levava ao Luso. Tinha feito esta estrada várias vezes enquanto vibrava com as canções de Crosby, os duetos com Grace Kelly, a voz de baixo temperado de Martin, a voz que levava CA de volta aos saraus do Ateneu: Sinatra.

Levava uma camisa branca de meia manga e uns calções de caqui, estava quase a vender um Unimog à empresa de M., um filho da mãe que quase o lixara na ... bem, que interessa isso, não deixes a irritação da manhã levar-te, pensou CA, voltando ao True Love. Conduzia um studebaker, azul com capota branca, já velho, e talvez esta venda possibilitasse a troca, ainda não tinha pensado em quê, talvez... passou-lhe uma imagem estranha de um automóvel arredondado, preto, com um símbolo não menos estranho, pareciam umas argolas entrelaçadas, curioso, pensou, o CM antes de partir falou em carros com este símbolo. Arrepiou-se com a imagem dos olhos negros profundos do filho, aquele ar de solidão adulta num corpo tão pequeno, arrepiou-se com esse olhar quando lhe negara uma ida à corrida da Fortaleza. Como se planeasse uma resposta. Em troca.

Olhou os imbondeiros à beira da estrada, cheios de frutos pretos que parecem ratos com a cauda pendurada dos ramos.