15 novembro 2005

O Crepúsculo dos Deuses

LF estava sentada há algum tempo na esplanada da Vela Latina, com a boina comprada na Bershka, ajeitava-a com a mão direita enquanto a esquerda segurava o bloco de notas (oferecido por C.), e ainda não acreditava no que acabara de ouvir: o Candidato de óculos brancos e camisola de gola subida acabara de lhe confessar a desistência da corrida ao putativo lugar de Belém. LF secretamente admirava FT, o seu olhar ao mesmo tempo altivo e assertivo, os olhos quasi-grandes atrás do óculo obrigatório, as mãos magras e os gestos que afirmavam a independência e a "luta" sem mais.
"Mas há 2 meses assegurou-me, digo, assegurou ao país que nunca desistiria! O que o fez mudar de ideias?!"
"As sondagens não me dizem nada. Sabe, LF, a política real faz-se todos os dias, o real olha para nós de manhã e é a gasolina que nos faz agir! O dia nasce e estamos ou não preparados para ele? Diga-me."

LF não respondeu, o gesto de passar o dedo pelo lábio debotou o baton Fetiche levemente no queixo, fechou o bloco de notas que segurava com a mão esquerda e levantou-se, deixando um rasto de eau de toilette CK pela mesa. Telefonou para o jornal:

"SF, toma nota para o editorial: FT desiste pressionado pelo interesse da esquerda, afirmando o seu apoio a um candidato", cito: "melhor posicionado para a derrotar"