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Meia-hora depois estavam despachados, o sorriso de NL mais aberto e a barbicha de MF mais arrebitada: as previsões do INE sobre o crescimento da economia portuguesa estavam por horas e estavam de acordo: não era possível falhar, era negativo e coisa para 1%. Ou mais ! - disse ainda ML ao desabotoar o colarinho da gravata, já ao volante do Lexus e acenando a NL, que o contemplava no passeio com ar superior, de perna afastada e barriga desleixada, com a madeixa outra vez ao estilo Françoise Hardy.
Dois dias depois, NL colocou a sua gravata azul escura comprada no Prada de Milão sobre uma camisa rosa de quadrados finos, Façonnable, da loja do Colombo. Seguiu de táxi para a Av. D. Carlos e mandou parar em frente ao café República. MF já estava no passeio, com a barbicha ao lado, e com borbulhas a despontar, inoportunas, como sempre que via NL ou saía com alguma funcionária da Buenos Aires.
E agora? - nem deixou NL falar. A interrogação acintosa significava que afinal o crescimento era 0,5% positivo, e queria ver o que ia dizer NL, que quase o forçara a escrever aquele artigo no JN, cheio de números e gráficos que previam tudo o que dava jeito prever, e que afinal...
Deixe-me em paz, retorquiu NL, sabe bem o que tem a fazer: escreve outro artigo dizendo porque razão o que era mau se fosse negativo ainda é pior sendo positivo. Você tem jeito para isso, afinal não foi secretário de estado?
Ciao, deixe-me ir beber em paz o meu Bacardi lemon.
1 comentário:
tom très blasé in a very realistic story
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