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Era um dia desejado profundamente por ela, garantira um novo emprego que procurara durante muitos meses, trazia no bolso a carta de demissão, mesmo sabendo que não iria ser olhada com simpatia por ninguém.
Sentia-se inquieta, mas sabia que não voltaria a ter de subir aquele elevador cheio de gente, e voltar a descê-lo com outros, e outros cheiros . Por alturas do 7º piso começou a sentir-se mais leve, o que a esperava seria rápido, talvez as antipatias gerassem a sugestão de partida imediata. Pelo 11º piso achava-se feliz, de novo.
Abriu discretamente a mala. T., o seu novo namorado, oferecera-lhe uma essência misteriosa cuja origem desconhecia, mas que ele garantia ser absolutamente eficaz contra a mistura de odores. Abriu o frasquinho e verteu umas gotas na mão. Leu o nome em letras pequeninas: Dubious Desiderata.
"Mas não abras nunca com o elevador em andamento", dissera na véspera. Ela sorrira com a laracha.
Às 8.12h chegaram duas ambulâncias, um carro de polícia, um helicópero. O perímetro do edifíco foi fechado. No 15º andar as portas do elevador estavam abertas e pessoas atónitas olhavam para um amontoado de roupas, calçado, malas e objectos pessoais. Mas nenhum sinal dos habituais ocupantes.
No ar uma pequena nuvem exalando cheiro intenso, agradável mas estranho, dissipava-se. Muito lentamente.
6 comentários:
...coisas voláteis.
Spooky!
hum... e essa nuvem não se teria dissipado em ... neve?
:-)) lololll
beijo
Ambiguamente desejada.
Por isso de dissipou e arrastou uns tantos com ela.
belo policial....
A mim surge-me apenas que se trata de uma mulher inteligente.
Aqui há vários finais alternativos. Dissiparam-se, foram raptados por aliens, ou ela, simbolicamente claro, espalhou um veneno libertário sobre os oprimidos dos elevadores que enfrentam 9 horas na subida.
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